quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Na casa do outro


Jornal A Notícia - 31 de maio de 2009. | N° 420
CAPA
Na casa do outro

Durante mais de 20 anos a mãe de Paulo Henrique de Moura trabalhou como doméstica. Aos 17, a mineira Maria das Graças viajou para São Paulo em busca de melhores condições de vida. O primeiro emprego que conseguiu foi como arrumadeira. A partir daí, trabalhou em várias casas, em algumas sendo bem tratada e em outras enfrentando dificuldades e até humilhações.

As histórias contadas pela mãe inspiraram Moura durante o curso de jornalismo na Universidade do Vale do Itajaí (Univali). O resultado foi o documentário “Domésticas Para a Vida: Quando o Trabalho É na Casa do Outro”, apresentado como trabalho de conclusão de curso no final do ano passado.

O filme narra a vida de três mulheres que moram em Itajaí. Apesar de trajetórias diferentes, elas têm em comum a profissão: são empregadas domésticas. Protagonistas da narrativa, Solange Ramos da Costa, Rosimeri dos Santos Lucindo e Maria de Lourdes Freitas relatam a luta, os preconceitos e as dificuldades que enfrentam para terem seus direitos reconhecidos. “O maior problema é que muitas precisam trabalhar e são obrigadas a deixar os estudos de lado, e, pela falta de escolaridade, não são reconhecidas”, relata Moura.

Durante 20 minutos, o mesmo trabalho é visto sob três óticas distintas e gera discussões em vários campos. No caso de Solange, o trabalho infantil é o principal tema. A empregada começou a trabalhar com nove anos e não ganhava salário. Limpava e arrumava a casa em troca de roupas e comida. Hoje, ainda trabalha como doméstica, de maneira legal, e gosta do que faz.

Já Rosi deixa claro que nunca gostou do trabalho. Como casou cedo, esta foi a única opção encontrada para ajudar no sustento da casa. “Agora ela está estudando para ser professora de crianças especiais. É o sonho dela”, revela o diretor do filme. O oposto de Rosi é Lourdes, que sente prazer pelo trabalho. “Lourdes faz porque quer, não precisa disso. Ela vai trabalhar de carro e têm quatro casas alugadas”, comenta.

As três histórias encontram-se em um ponto comum: o complexo universo do trabalho doméstico e a luta pela legalização dos direitos trabalhistas.

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